Soluções para reúso de água estão cada vez mais presentes em variados tipos de empreendimentos. Além da economia financeira proporcionada pela redução no consumo da distribuição pública, a prática preserva um dos recursos indispensáveis para a vida no planeta. Destaque positivo é que esse tipo de sistema pode tanto ser planejado ainda na fase de projeto da edificação quanto ser incorporado às instalações preexistentes.
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A principal diferença entre uma situação e outra é que, nas construções novas, a tubulação e os demais itens já são pensados para contemplar o reúso. Por outro lado, as adaptações demandam mais trabalho. “O primeiro grande desafio é conseguir espaços para os reservatórios de armazenamento de água, que, em alguns casos, podem ser bastante grandes”, afirma o engenheiro Victor Deantoni, diretor da Faculdade de Engenharia Civil da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas).

Outra dificuldade está na necessidade de refazer toda a instalação hidrossanitária da edificação, afinal, a distribuição de água potável não deve se misturar com o volume de reúso. “A ligação da caixa para o telhado costuma ser mais simples, porém, para alimentar as bacias sanitárias e demais pontos de consumo, é preciso quebrar as paredes para a montagem do novo encanamento”, explica o especialista.

Sistema Tradicional x Reuso

Existem diferenças se comparados o sistema tradicional com aquele que tem soluções de reúso. Além disso, para o aproveitamento da água da chuva é exigida a instalação de uma nova tubulação, bombas e reservatório. Já o reúso de águas cinzas pede, além dessa mesma infraestrutura, estações de tratamento.

“Nos sistemas convencionais em residências unifamiliares, há a entrada de água que alimenta o reservatório superior, responsável por abastecer os demais pontos de consumo”, resume Deantoni, comparando com as instalações que possuem aproveitamento de volumes pluviais. “Nesse caso, é necessária a captação da água nos telhados e uma tubulação que a conduzirá para o reservatório, que pode ser enterrado ou posicionado no nível do solo”, explica.

Dessa caixa, a água da chuva pode ser distribuída para os pontos de consumo com o uso de bombas que pressurizam a rede. Outra possibilidade é bombear esse volume para outro reservatório superior — separado daquele que tem água potável — e encaminhá-lo para as torneiras ou demais equipamentos por meio da gravidade. “Depois de tratada, essa água pode ser aproveitada para irrigação, limpeza ou nas bacias sanitárias”, enumera o engenheiro.

Nas edificações verticais e condomínios horizontais, a captação da água da chuva se torna ainda mais interessante devido à área de cobertura ser maior, resultando em quantidades elevadas de volume armazenado. “É importante lembrar que, como o regime de precipitações oscila frequentemente, não haverá vazão firme — que se mantém constante durante todos os meses do ano”, ressalta Deantoni.

Para as estações secas, o sistema de aproveitamento de água pluvial deve contar com solução de complementação, que enche o reservatório com volume potável e evita o completo esvaziamento. “A interligação deve ser dimensionada por profissional especializado, para garantir que a água de reúso não entre na rede potável”, diz o engenheiro. De preferência, o acionamento da complementação deve ser automatizado, com o uso de boias, por exemplo.

Já no caso do reúso de águas cinzas — provenientes de chuveiros, tanques e lavatórios —, a infraestrutura necessária é mais sofisticada. É preciso instalar um sistema de captação desse volume e, por meio de rede independente, encaminhá-lo para tratamento. Com o uso de filtros, além de técnicas de floração ou tecnologia ultravioleta, são eliminadas as bactérias que podem estar misturadas com a água.

O volume limpo é armazenado e depois distribuído de maneira similar ao que acontece com a água da chuva. “É importante lembrar que esse tratamento não torna a água potável, ou seja, ela só pode ser aproveitada em bacias sanitárias, lavagem de jardins e em alguns tipos de irrigação”, ressalta o especialista, lembrando que também há a possibilidade de reúso do esgoto total — o que inclui as bacias sanitárias. “Mas, nesse caso, é necessário instalar estações mais complexas de tratamento”, completa.

Identificação

Como a água de reúso não é própria para o consumo, sempre as duas redes devem ser completamente separadas — o que evita qualquer tipo de contato. “Além disso, devem estar disponíveis identificações detalhando o tipo de água que sai daquela torneira”, informa Deantoni. Essa informação pode ser repassada para os habitantes da edificação por meio de placas fixadas ao lado dos pontos de consumo.

Como os tubos e conexões são os mesmos produtos usados em instalações tradicionais, uma prática interessante é pintá-los com cores diferentes. Com isso, durante alguma futura manutenção, ficam eliminados os riscos de a equipe técnica confundir o sistema de distribuição de água de reúso com aquele que conduz os volumes potáveis.

NORMAS TÉCNICAS

Existem diferentes normas técnicas que precisam ser respeitadas no planejamento e execução dos sistemas, como a ABNT NBR 5626 — Instalação predial de água fria; a ABNT NBR 13969 — Tanques sépticos — Unidades de tratamento complementar e disposição final dos efluentes líquidos — Projeto, construção e operação; e a ABNT NBR 15527 — Água de chuva — Aproveitamento de coberturas em áreas urbanas para fins não potáveis. “Há também a resolução CNRH54/2005”, complementa o engenheiro.

Manutenção

A principal manutenção que os sistemas de reúso pedem é a limpeza periódica (semestral), que deve ser feita tanto no reservatório inferior quanto no superior. Já nas instalações para aproveitamento de água da chuva também é necessária a higienização do filtro. “Dependendo de seu tamanho, a peça pode precisar de limpezas quinzenais, procedimento que consiste na retirada de folhas e outros resíduos maiores”, afirma o especialista.

Na prática

O professor Deantoni está envolvido na reforma da estação de tratamento de águas cinzas da PUC-Campinas, que deve entrar em funcionamento no segundo semestre de 2019. Ela será responsável pelo tratamento dos volumes coletados no edifício de aula (lavatórios e bebedouros) e será utilizada nas descargas das bacias sanitárias. “O projeto é resultado de trabalhos de alunos da graduação de engenharia civil e engenharia ambiental”, finaliza.

 

Fonte: AEC Web