É possível entender que nossos antepassados preservavam um profundo conhecimento a respeito das condições ambientais e das necessidades físicas do ser humano em sua busca por abrigo. Apesar dos avanços tecnológicos e da evolução da forma de se observar o mundo ao redor, esse tipo de conhecimento, e relação com o entorno, ainda pode ser empregado atualmente e adaptado às nossas realidades.
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Isso pode ser observado ao explorar o uso das pedras naturais na arquitetura, evidenciando as suas várias formas de atuação.

A história da humanidade está intrinsecamente relacionada ao uso das pedras como ferramentas e matérias prima. Assim como um machado, feito de pedra e madeira, é tido como a ferramenta mais antiga conhecida atualmente, a pedra como elemento fundamental das construções é também protagonista no desenvolvimento das técnicas construtivas e no pensar arquitetônico.

Desde 4200 ac nas aldeias neolíticas da Europa Ocidental o uso de pedras nas construções era considerado uma importante inovação arquitetônica, astronômica e comunitária. Os megálitos, cuja etimologia significa “grande pedra”, eram estruturas utilizadas como túmulos, observatórios astronômicos, abrigos ou pontos de referência. Algumas dessas estruturas ainda podem ser vistas hoje em dia, na Escócia e na Irlanda. Além desses, a história da arquitetura, e a história da construção, guardam uma série de experiências que colocam a pedra natural como importante matéria prima das construções, como vemos no complexo funerário na península de Gizé, ou ainda nas imponentes construções da civilização grega, da civilização romana, e mais tarde, com as construções da Idade Média.

As rochas são elementos retirados do solo qu

Historicamente, as pedras eram utilizadas como elementos estruturais das construções. Com o passar do tempo, e a evolução das técnicas construtivas, o advento do concreto armado e da estrutura metálica, essa prática se tornou menos comum, porém, alguns arquitetos ainda optam por estruturas de pedras, como é o caso da Casa em Livadia, na Grécia. De uma mistura de materiais e técnicas naturais, os arquitetos optaram por paredes e muros de pedras extraídas localmente, deixando as pedras à mostra internamente.e têm suas propriedades definidas a partir da variedade de minerais em sua composição, e também dos processos geológicos pelos quais o material foi submetido. Essas condições definem o tipo de rocha, e portanto, qual pode ser sua aplicabilidade dentro de variados campos industriais, como é o caso da construção civil. Dentre suas variações, as pedras se aplicam em diferentes etapas da construção, podendo aparecer desde agregados em concretos, elementos estruturais de paredes, muros e pontes e até como revestimentos de pisos e paredes.

Há também alguns arquitetos que optam por incorporar as pedras às estruturas, normalmente como elementos de destaque, como é o caso da GreenHouse, que praticamente usa a estrutura metálica para encapsular as pedras. Quando o atelier OTTOTTO removeu o reboco das paredes desta casa, descobriu duas imponentes paredes de pedra. A sua beleza obrigou a mantê-las à vista, juntando-lhes apenas uma nova camada, em rede metálica.

Usar das pedras como elemento de contraste em reformas é um artifício interessante para projetos residenciais. Na Casa Ex Fábrica Richaud, de Richaud Arquitectura, a qual ressalta as antigas técnicas de construção da Península de Yucatán e as integra com as práticas modernas através da recuperação e restauração de um pedaço da história. Nesta casa, para além das antigas paredes de pedra, vemos acabamentos novos em pedra natural e também o contraste com as paredes lisas, rebocadas e coloridas. Também podemos ver o uso da pedra não só como estrutura e acabamento, mas também como objeto destacado, no lavatório do banheiro.

Outra forma de usar a pedra natural como elemento construtivo, e também como elemento decorativo, é a execução de muros de pedra que trazem mais privacidade para as casas. A Casa das Pedras, de Hueb Ferreira Arquitetos, apresenta muros e paredes de pedra que auxiliam a dar a essa casa o ar de “refúgio” que se pretendia. Além disso, a casa também usa das pedras para dar destaque a alguns ambientes, como é o caso da área social.

Para além de considerar as pedras como elementos construtivos, atualmente, elas são mais comumente empregadas como elementos de revestimento. As pedras brutas, como vimos nos exemplos acima, são uma forma de se inserir texturas naturais na arquitetura. Outra opção é utilizar pedras brutas, porém cortadas em peças, como é o caso desta casa na Espanha projetada pelo Hiha Studio, que usa o contraste entre a madeira, a parede de taipa, a parede de tijolo, o vidro e as pedras naturais do piso para atingir um resultado harmônico.

O uso da pedra polida como acabamento é uma escolha que tem caído em desuso por conta das novas tecnologias de materiais que muitas vezes usam dos padrões e cores das pedras para simularem esse material. Optar pela pedra natural é uma escolha que pode estar atrelada aos conceitos de sustentabilidade e à vontade de conexão com a terra e com a natureza. Dessa forma, o uso dessas texturas e cores naturais pode destacar os objetos, como é o caso deste apartamento reformado em Portugal, que usa ardósia como prateleira na sala e como revestimento para pia e banheira nos banheiros.

A Casa Contêiner é um projeto que mistura o uso de pedra natural com os novos materiais sintéticos que reproduzem o padrão das pedras. Seus ambientes foram tomados por tons de branco que tem papel protagonista na função de ampliar o espaço e compor o clima minimalista com acabamento impecável para que o contêiner em si e toda a sua estrutura industrial e corrugada ficasse imperceptível aos olhos. Para além dos acabamentos internos, a casa destaca um banco esculpido em granito brasileiro desenhado pelo escritório, montado in loco com 204 chapas idênticas formando um espiral, que eleva o elemento em pedra natural a uma obra de arte.

São muitas as possibilidades de se utilizar as pedras como parte da arquitetura, seja como estrutura, acabamento ou inclusive como objeto de destaque. A reforma da Casa em Santa Mamede, que traz a transformação de um histórico pavimento de hotel em um apartamento unifamiliar, utiliza pedras naturais explorando todos os seus atributos possíveis, polidas, brutas, recortadas e naturais. Mesmo com a premissa de que as intervenções deveriam ser silenciosas o suficiente para não serem percebidas, ou para disputar a atenção pelo pré-existente, as pedras ainda se destacam de forma discreta, dentro do conjunto.

Com sua variedade de texturas, propriedades e aplicações, e ainda, com a sua habilidade de trazer a tona a história do lugar, a relação com a paisagem, a demonstração de técnicas construtivas, e também de se tornar o grande diferencial de um projeto, as pedras naturais continuam demonstrando o por que acompanham a evolução da história da construção, seja como protagonista, seja como base e inspiração.