Dentre diferentes estratégias, ativas ou passivas, a incorporação da energia solar é uma das mais procuradas no âmbito da arquitetura residencial. Além de receber incentivos em diferentes partes do mundo, o uso de sistemas solares lidera a procura dentro das soluções sustentáveis justamente porque os benefícios da sua instalação podem ser vistos em um curto espaço de tempo com uma redução de até 95% dos gastos mensais com energia. Ademais, a vida útil de um painel solar pode chegar até 25 anos, funcionando de forma totalmente autônoma e requerendo apenas uma limpeza básica uma vez por ano.
Entretanto, apesar da popularização dos sistemas de captação solar dentro dos projetos arquitetônicos devido à suas inúmeras e incontestáveis vantagens, sua aplicação no quesito estético ainda é um obstáculo para os arquitetos e clientes. O grande desafio parece ser integrá-los no desenho arquitetônico, alinhando sua presença desde o início da concepção projetual e não apenas adicionando-os sobre o projeto já finalizado.
Hoje em dia, existem também algumas alternativas que permitem a melhor integração dessa tecnologia à arquitetura já que os painéis fotovoltaicos, atualmente, podem atuar como elementos de fechamento em coberturas planas ou inclinadas, revestimento nas fachadas, elementos vazados para sombra como pergolados, brises ou varandas, entre outras.
Neste sentido, para além da aplicação tradicional, alguns exemplos trazem o sistema solar integrado ao projeto arquitetônico como é o caso da Casa Yin Yang construída na Califórnia. Seu sistema, desenvolvido por alunos do Departamento de Energia dos Estados Unidos, combina de forma elegante a tecnologia da engenharia com a estética de uma boa arquitetura residencial. Graças à sua superfície plana e uso bifacial, os painéis fotovoltaicos conseguem absorver a energia solar pela luz direta na parte superior e pela luz refletida na parte inferior, maximizando a quantidade de energia solar recolhida por metro quadrado. Além disso, criam uma interessante composição estética e volumétrica quando aplicados nas varandas, como é o caso.
Seguindo essa mesma linha, a casa Bundeena Beach possui um sistema fotovoltaico com dezesseis painéis e bateria Tesla, visto como um lago de reflexão linear dentro do projeto do telhado jardim, fornecendo toda a energia necessária ao proprietário. Este projeto tinha como principal premissa a total integração dos painéis fotovoltaicos ao desenho da casa, servindo como um exemplo de como as características ambientais podem melhorar, em vez de prejudicar, um projeto.
Falar em aplicação inovadora de sistema solar em residências sem citar a competição estudantil do Solar Decatlhon é impossível. Conhecido como as “Olimpíadas de Arquitetura Sustentável,” o Solar é um concurso de projetos que acontece bianualmente e desafia 20 equipes acadêmicas a projetar, construir e operar casas solares independentes da rede de energia elétrica, acessíveis e atraentes. Dentre os inúmeros modelos que são construídos em todas as edições, um deles se destaca justamente por se tratar de um sistema de painéis solares flexíveis. UrbanEden, a proposta da Carolina do Norte na edição de 2013, é alimentada por um conjunto de painéis fotovoltaicos instalados em um sistema de trilhos na cobertura da casa. Os painéis podem se deslocar para cima do deck, proporcionando sombra aos ambientes externos e à fachada sul durante o verão. No inverno, eles são recolhidos, permitindo o aquecimento passivo e iluminação através da fachada sul. Uma aplicação criativa que pode gerar composições estéticas interessantes e versáteis.
No entanto, vale ressaltar também algumas aplicações mais usuais que também apresentam um cuidado na composição formal e estética como é o caso da Casa Jenson-DeLeeuw NZE. Construída nos EUA, a casa conta com um espaço de 200 m² para gerar energia renovável, sustentando as necessidades energéticas da casa e alimentando totalmente um veículo elétrico. O telhado foi desenhado na posição e inclinação necessária para abrigar os seus 56 painéis fotovoltaicos que, por sua vez, criam um plano único e marcante. Sua coloração escura auxilia também no diálogo com a paleta de materiais utilizada na casa. Esta mesma estratégia de incorporação dos painéis formando um plano inclinado é utilizada no projeto da Passive House, adicionando-os na cobertura revestida com estrutura de bambu.
Ainda falando sobre a composição integrada aos telhados inclinados, as casas Newhall South Chase possuem um painel fotovoltaico de 5,4 m² na cobertura. Apesar da escala muito mais modesta do que o exemplo anterior, sua composição na inclinação do telhado revestido em pedra cinza se torna discreta e ao mesmo tempo eficiente.
Entretanto, é possível tirar partido da linguagem estética do painel fotovoltaico para criar diferentes composições e contrastes dentro do projeto arquitetônico e, ao invés de mantê-lo o mais discreto e imperceptível possível, torná-lo um elemento marcante. A CO2 Saver House é um bom exemplo dessa estratégia quando posiciona os painéis solares na fachada principal, alinhados com o teto envidraçado, marcando também a estrutura proeminente.
Embora as opções acessíveis hoje em dia no mercado ainda serem limitadas, principalmente em termos estéticos, a tecnologia da sustentabilidade avança cada dia mais como os painéis produzidos com restos de alimento que convertem a radiação UV em luz visível e geram eletricidade ou as telhas solares que se camuflam totalmente no telhado. Mas enquanto essa tecnologia não chega até todos nós, seguiremos exercitando a criatividade ao encontrar o equilíbrio entre a funcionalidade e a estética dentro dos projetos.