Pelo contrário, observa-se no País um movimento que começou tímido, mas vem ganhando força nos últimos anos, de empresas de menor porte interessadas nessa inovação. Ao ser implementado, o BIM provoca uma revolução digital nas organizações que buscam se qualificar para serem mais competitivas e crescer.
Aliás, representantes do setor apostam numa recuperação mais robusta da área da construção civil em 2020, apontando para um novo ciclo de crescimento nos próximos anos. Este é o momento das organizações se prepararem para as oportunidades que vão surgir e que vão exigir maior eficiência e produtividade.
O BIM pode contribuir muito neste sentido, proporcionar um salto de qualidade no desempenho das micro e pequenas construtoras. Porém, sua implementação exige conhecimento, determinação e alguns cuidados dos gestores.
Uma coisa é certa: seja qual for o porte da sua empresa, não há mais como você ou qualquer empreendedor da área ignorar o BIM. É preciso conhecê-lo e avaliar com seriedade a implementação dessa ferramenta na gestão das suas obras.
Seguindo a leitura, vou lhe ajudar a entender melhor o BIM, com as informações mais importantes sobre suas funcionalidades e os avanços que ele proporciona.
Entenda o que faz o BIM
Vamos começar lembrando o que é o BIM, sigla em inglês para- Building Information Modeling ou “Modelagem de Informação da Construção”. Ele aporta na gestão dos empreendimentos um conjunto de informações que são geradas e mantidas durante todo o ciclo de vida de uma obra civil.
Trata-se de um conceito que começou a ser criado na década de 80 do século passado mas que só se concretizou a partir dos anos 2000.
No BIM, todos os detalhes possíveis e imagináveis de um projeto, como estrutura, hidráulica, elétrica, composição dos materiais e outros são controlados, modificados e aprimorados, em um único modelo.
Os velhos projetos em desenhos e plantas 2D são substituídos por novas “camadas de modelagem” 3D, 4D e diversas outras possibilidades. À medida que as informações do projeto vão sendo inseridas, o software em BIM vai criando a visualização tridimensional da obra.
Isso é vital para auxiliar nas decisões de projeto e para comparar as alternativas possíveis de design. É uma ferramenta que produz uma construção virtual equivalente a uma edificação real, com altíssimo grau de precisão.
Dessa forma, antes mesmo da construção ter começado, você já pode antecipar e entender seu comportamento, identificando falhas ou possibilidades de melhorias que só seriam percebidas, no modo tradicional, no andamento da própria obra.
A empresa, de qualquer porte, ganha com isso considerável tempo e economiza recursos que seriam desperdiçados pelos atrasos, retrabalho, correções e outros inconvenientes. Resumindo, é como uma maquete totalmente digital, que torna muito mais fácil o planejamento e execução da obra.
Ele ainda organiza e disponibiliza todas as informações do processo construtivo para todos os envolvidos, seja da engenharia, do orçamento ou de qualquer outra área. Há uma intensa atividade colaborativa entre os diversos setores com a ferramenta BIM.
Já pensou, você poder apresentar à sua clientela sua proposta de design tridimensional, com muito mais precisão, clareza e a visualização do futuro empreendimento por todos os ângulos possíveis imagináveis?
É um diferencial que eleva o conceito da pequena ou microempresa a novos patamares nesse mercado.
Sebrae incentiva implementação do BIM
O próprio Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e Pequena Empresa (Sebrae) incentiva o emprego do BIM pelas construtoras menores, através de encontros, cursos, e publicações.
Aliás, o Sebrae destaca muito a necessidade das construtoras investirem em tecnologia para alcançarem maior produtividade, com o emprego de novos materiais e sistemas inteligentes que alavanquem o progresso do setor.
Neste sentido, o Sebrae inclui com destaque o BIM nas tendências tecnológicas para a construção, destacando que essa modelagem “alia a redução de custos com menores prazos e riscos de erros”.
Ao divulgar um seminário sobre o tema, o analista Jefferson Santos, do Sebrae de Minas Gerais, ressaltou que “este novo modelo permite otimizar os resultados operacionais e financeiros na construção civil, pela maior integração dos diversos processos de uma obra”.
Segundo ele, o BIM beneficia toda a cadeia produtiva do setor e tem impacto direto no usuário final, que dessa maneira tem um orçamento mais preciso da obra:
“Com esse método, o usuário tem como saber com 98% de acerto, em alguns casos, qual o prazo e o custo do serviço que ele está contratando”, garantiu.
Um manual da instituição afirma que obras que utilizam o conceito BIM alcançam uma redução de:
- 22% no custo de construção
- 33% no tempo de projeto e execução
- 33% nos erros em documentos
- 38% de reclamações após a entrega da obra ao cliente
- 44% nas atividades de retrabalho
A Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) também cita dez motivos para a sua construtora evoluir com o BIM.
- Visualização em 3D do que está sendo projetado
- Ensaio da obra no computador
- Extração automática das quantidades
- Realização de simulações e ensaios virtuais
- Identificação de interferências automaticamente
- Geração de documentos mais consistentes e íntegros
- Capacitação para execução de construções complexas
- Viabilização e intensificação do uso da industrialização
- Complementação do uso de outras tecnologias e
- Preparação da empresa para o futuro.
BIM é para todas as empresas
Antonio Meireles é CEO da ndBIM Virtual Building, uma empresa portuguesa de consultoria e serviços na área de BIM, com uma das suas sedes em São Paulo.
Ele não deixa dúvidas sobre a viabilidade dessa solução para micro e pequenas construtoras: “Todas as empresas estão prontas para começar a implementar o BIM”, afirma.
O BIM é uma metodologia que deve ser entendida como algo que vai agregar valor à empresa, complementa.
“Portanto, se uma empresa tiver vontade de melhorar a sua produtividade, aumentar a sua eficiência, estiver disponível para fazer um pouco de investimento em tecnologia, mudança cultural e treinamento de pessoas. eu diria que essa empresa está pronta para iniciar essa revolução digital que é o BIM”, afirma.
Mas como implementar o BIM, quais os desafios para isso?
Ele responde que uma empresa que pretende implementar o BIM deve pensar nisso de forma abrangente, como algo que envolve pessoas, tecnologia e processos, ou seja, é uma mudança que precisa ser planejada.
As pessoas envolvidas vão necessitar de treinamento e de algum tempo para amadurecer as suas competências com a nova ferramenta. Como o BIM lida com modelos pesados, às vezes é preciso também um investimento em hardware e software que suportem essa tecnologia.
Imagem: Sebrae
“Isso implica algum esforço financeiro mas, felizmente, devido à sua utilização mais ampla, por mais pessoas, as tecnologias têm reduzido reduzido o seu valor, seja hardware ou software, e isso também facilita em muito a tarefa das empresas de definirem os recursos necessários para sua implementação”, diz Antonio Meireles.
Projetistas internos ou externos?
Por outro lado, as empresas podem optar por desenvolver a modelagem BIM internamente ou, então, recorrer a serviços externos, terceirizando essa função. Isso depende muito da estratégia de crescimento da empresa, pondera o CEO da ndBIM.
Empresas que têm como foco empreendimentos de baixo padrão construtivo, como as envolvidas no programa Minha Casa Minha Vida, perceberam que devem ter projetistas internos. Devido à padronização necessária, fazer isso internamente é mais eficiente.
Já as empresas voltadas para altos padrões construtivos, que pretendem explorar conceitos diferentes, novas formas, muitas vezes preferem contratar profissionais e empresas externas para o desenvolvimento de seus projetos de perfil mais complexo.
Enfim, a decisão de avançar com a modelagem interna ou externa depende muito da estratégia que está montada para a construtora, reforça Meireles.
Estratégia BIM BR
Não bastassem os argumentos técnicos e financeiros, outro fator está motivando as organizações a incorporarem a modelagem na sua linha de produção: o BIM passará a ser uma exigência legal!
Isso mesmo, o Projeto de Lei 6.619 de 2016 propõe uma mudança na Lei 8.666, que regulamenta as licitações, para que todas as obras públicas passem a ser contratadas contendo o modelo BIM, obrigatoriamente.
Nesta direção, o governo publicou o Decreto nº 9.377, de 17 de maio de 2018, oficializando a Estratégia Nacional para a Disseminação do Building Information Modeling (BIM) – a Estratégia BIM BR.
Ela tem como objetivos gerais “incentivar o desenvolvimento do setor de construção, trazer mais economicidade para as compras públicas e maior transparência aos processos licitatórios”.
Como objetivos específicos, essa política do governo visa:
- Difundir o BIM e seus benefícios
- Coordenar a estruturação do setor público para a adoção do BIM
- Criar condições favoráveis para o investimento público e privado, em BIM
- Estimular a capacitação em BIM
- Propor atos normativos que estabeleçam parâmetros para as compras e contratações públicas com uso do BIM
- Desenvolver normas técnicas, guias e protocolos específicos para a adoção do BIM
- Desenvolver a Plataforma e a Biblioteca Nacional BIM
- Estimular o desenvolvimento e aplicação de novas tecnologias relacionadas ao BIM
- Incentivar a concorrência no mercado por meio de padrões neutros de interoperabilidade BIM
BIM: uma tendência definitiva
Como você pode perceber, o BIM significa uma revolução digital na construção civil. É uma tecnologia que proporciona informações seguras, confiáveis, e o controle total do gestor sobre cada uma das etapas do planejamento e execução das obras.
Diminuem sensivelmente os erros, inconsistências e incompatibilidades dos projetos. Elimina-se perdas pelo retrabalho e desperdício, com altos ganhos de eficiência e produtividade.
O BIM está se tornando um exigência do mercado e uma obrigatoriedade legal, no caso dos empreendimentos públicos. Isso leva à necessidade das empresas se adequarem logo a essa tendência que já é definitiva no setor.
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