Barbieri: Qual é a contribuição da indústria da construção para as emissões de gases de efeito estufa?
Francisco Pedrazzi: Muito grande. A indústria da construção é um dos maiores emissores de gases de efeito estufa. A emissão de CO₂ dos produtos de construção, em geral, responde a dois fatores: por um lado, à energia consumida no processo de fabricação; e, por outro lado, às emissões diretas produzidas nesse processo. Aço, cerâmica, cimento, etc., são grandes emissores de CO₂, portanto seu uso deve ser reduzido ao mínimo possível. Obviamente, atendendo as normas de segurança que as construções exigem. O uso de materiais como aço e isolantes térmicos, que com menos massa cumprem todas as funções que uma construção requer, é uma grande contribuição para mitigar as mudanças climáticas.
Barbieri : Quais considerações você acredita que deveriam ser feitas em relação à escolha dos materiais e à emissão de gases de efeito estufa?
Francisco Pedrazzi: Alguns parâmetros que podem ser úteis para avaliar a escolha de um material de acordo com seu ciclo de vida, são analisar qual impacto esse material tem ao longo do tempo e de acordo com seus atributos ou propriedades (seja qualidade e desempenho; composição química; melhoria da qualidade do ar interno; comportamento frente ao fogo; conservação, economia de energia e eficiência energética; durabilidade; degradabilidade ou compostabilidade do material). A seleção dos materiais deve ser considerada como uma atitude
transformadora a partir de critérios que priorizam a saúde das pessoas, o cuidado com o meio ambiente e a preservação do planeta.
Barbieri: Entendemos que existem vários fatores que influenciam para determinar se uma construção é ou não sustentável. Quais você considera alguns dos principais aspectos a serem considerados?
F. P.: As emissões de CO₂ são apenas uma parte do problema, já que a sustentabilidade das edificações é um aspecto multifuncional. Na verdade, existem muitos outros fatores que influenciam um edifício a ser sustentável além de economizar energia (que também é um dos aspectos mais importantes e tem impacto direto nas emissões de CO₂), como a redução de canteiros de obras para minimizar o impacto no meio ambiente, a redução de resíduos, a possibilidade de reciclar ou reaproveitar os materiais de construção após o fim da vida útil, a emissão de compostos voláteis durante a operação da edificação, a redução do consumo de água, os parâmetros de projeto
(proteções passivas, condições de luz solar, ventilação natural, etc.), entre outros. Esses aspectos são tidos em consideração pelos diferentes sistemas que permitem avaliar a sustentabilidade de um edifício, com escalas numéricas
ou através do estabelecimento de limites.
Barbieri: Esse ponto é muito importante para esclarecer. Hoje, como é possível avaliar a sustentabilidade de uma construção?
F. P.: Existem vários sistemas de avaliação. Idealmente, ao começar a desenvolver o projeto do edifício, você deve considerar quais são os aspectos que influenciarão posteriormente na determinação de sua classificação. Se possível, diferentes alternativas devem ser avaliadas, como o tipo de estrutura, tipos de esquadrias, revestimento, etc., para escolher a solução mais sustentável. É útil nesta fase consultar alguns aspectos básicos: a envolvente do edifício tem uma grande influência no posterior consumo de energia, portanto, na classificação de sustentabilidade. A escolha de envolventes eficientes resultará em menor consumo de energia, portanto, menores emissões de CO₂. Nas últimas duas décadas, vários métodos foram desenvolvidos e aplicados para avaliar e certificar a qualidade do edifício ou
projeto, estabelecendo o seu grau de sustentabilidade. Seu uso é voluntário, mas esses sistemas de avaliação fornecem à arquitetura um valor agregado para competir no mercado. Entre os mais utilizados internacionalmente estão BREEAM, LEED, GREEN STAR, WEEL, etc.
Barbieri: E quanto aos produtos utilizados na construção, como é possível avaliá-los?
F. P.: A possibilidade de ter produtos com DAP (Declaração Ambiental de Produto) hoje é outra ferramenta importante na tomada de decisões, já que a DAP é um relatório de todas as entradas e saídas dos diferentes aspectos do produto (energia, emissões de CO₂ e outros gases, emissões de produtos potencialmente tóxicos, consumo de água, etc.), que abrange desde a obtenção de matérias-primas até a disposição final no fim de vida útil. É neste último aspecto que também podem ser avaliados os materiais e seu impacto no
ambiente pós-demolição. É nesse momento que o reaproveitamento e a reciclagem assumem grande importância
Barbieri: Uma questão que se coloca é: todos os materiais considerados recicláveis contribuem de igual maneira para a sustentabilidade?
F. P.: Não. Além do potencial de reciclabilidade e seu percentual, deve-se considerar se existe um circuito estabelecido para sua recuperação e reciclagem. O aço em suas diferentes formas não só têm possibilidade de reaproveitamento, mas também há um circuito de recuperação de sucata de aço que permite sua utilização na fabricação de aço novo. Outro aspecto importante a se considerar é que o aço é 100% reciclável e não guarda memória de usos anteriores. O que hoje é a carroceria de um carro vai virar perfil e esse perfil, se não for reaproveitado, vai virar geladeira.
Barbieri: Finalmente, você acredita que a sustentabilidade dos edifícios será um fator importante na tomada de decisões?
F. P.: Já é e será cada vez mais, passando de edifícios comerciais e de serviços para residenciais. A consciência ambiental cresce a cada dia, e a construção não é alheia a isso.
Agradecemos ao Eng. Francisco Pedrazzi por compartilhar conosco esta conversa com
o objetivo de sensibilizar e reduzir o impacto das edificações no meio ambiente.