As figuras do arquiteto e do engenheiro como conhecemos hoje surgem em momentos distintos da história. Nos primórdios, as técnicas de construção eram um ofício coletivo, segmentado em diferentes habilidades e transmitidas oralmente de geração a geração. Essa prática coletiva da construção começa a mudar no continente europeu a partir do Renascimento quando as representações gráficas se tornam uma ferramenta de projeto e comunicação a partir de novas técnicas, como a introdução do desenho em perspectiva, que transforma o jeito de reconhecer, pensar e prever o espaço. É nesse momento que surge a figura do arquiteto solitário e é a partir daí que começamos a reconhecer importantes personagens arquitetos como Alberti e Brunelleschi.
A figura do engenheiro civil, por outro lado, surge durante a Revolução Industrial. A engenharia é uma disciplina de origem militar datada no século XIV, porém, a engenharia civil surge com a dedicação de alguns engenheiros militares a projetar galpões industriais durante o século XVIII na Inglaterra. O primeiro engenheiro civil reconhecido é John Smeaton, também responsável pela criação da Sociedade dos Engenheiros Civis, dedicada a reunir profissionais para conceber e executar grandes obras. A partir do século XIX, portanto, a construção civil é alimentada por três figuras cujo escopo e história se entrelaçam: os construtores, o arquiteto e o engenheiro civil.
Essa divisão se desenvolveu com transformações que acompanham a evolução das sociedades e foram sendo cada vez mais determinadas a partir de seu contexto temporal, geográfico, político e econômico. Enquanto a engenharia e a arquitetura se tornaram disciplinas de ensino superior, com diversas áreas de especialização, a construção em si continua um trabalho prático, que pode ser aprendido em cursos técnicos, mas que também é repassado na prática do canteiro de obras.
Ao mesmo tempo, de um lado, a engenharia civil é uma disciplina dedicada ao estudo e desenvolvimento da infraestrutura construída em diversas escalas, e pode ser dividida em diferentes áreas como recursos hídricos, transporte, recursos energéticos, saneamento, edificações, gestão e construção. Dentro da variedade de possibilidades, o engenheiro civil se encarrega das questões técnicas de projetos viários, hidro sanitários de grandes territórios, por exemplo, ao mesmo tempo que pode também se dedicar a trabalhar com projetos e gestão de construção de edifícios.
A arquitetura, por outro lado, é a disciplina dedicada ao projeto de espaços que respondam às necessidades dos usuários para além de sua funcionalidade mecânica, trazendo reflexões baseadas na cultura, economia, política e história, ao mesmo tempo que se preocupa com a criação de um espaço salubre e apropriado em relação à temperatura, iluminação, insolação e acústica, além também de conhecer os aspectos construtivos e gestão da obra. A arquitetura é a disciplina que está fundamentalmente relacionada ao projeto e a construção de edifícios e é aqui que as duas disciplinas se encontram: a engenharia trazendo os aspectos técnicos do funcionamento da construção, e o arquiteto trazendo seus aspectos técnicos qualitativos.
Essa relação é bem ilustrada no caso de um edifício em altura. Em um projeto de grande escala, o arquiteto é o responsável pela concepção daquele edifício, é quem faz o projeto de arquitetura que serve como base para as outras disciplinas técnicas desenvolverem em seguida seus projetos complementares, e também é quem compatibiliza esses projetos, para funcionarem juntos. O engenheiro civil se aproxima para executar os projetos complementares, de acordo com suas especialidades: estruturas, hidráulica, elétrica e etc. Um edifício é a soma dos projetos complementares com o projeto de arquitetura. Sua construção, por outro lado, pode ser gerida tanto por arquitetos quanto por engenheiros, considerando que cada etapa também exige inspeções específicas de cada área.
Essa diferença é mais sutil quando tratamos de projetos de pequeno porte, como o caso de residências, devido à sua simplicidade. Ambos os profissionais têm conhecimentos gerais das diferentes disciplinas que compõem uma construção, porém, à medida que o projeto vai se complexificando, em escala, tamanho e uso, é importante resguardar as especificidades de cada área. Ainda assim, é importante ressaltar que as grandes obras de arquitetura que temos na história, desde os primórdios até hoje, são resultado da soma de conhecimentos técnicos e sociais empregados em forma de construção e portanto, o trabalho conjunto desses profissionais é a chave para bons projetos.
Fonte: Archdaily