A adoção de medidas em prol da sustentabilidade nunca se provou tão urgente. De acordo com o relatório mais recente do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da Organização das Nações Unidas (ONU), divulgado no dia 4 de abril, as temperaturas estão cada vez mais instáveis, podendo chegar ao aquecimento global de até 3,2ºC devido à crescente emissão de gases de efeito estufa. O limite proposto no Acordo de Paris é de 1,5ºC.
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Segundo o estudo, foram 59 bilhões de toneladas emitidas até 2019, 12% a mais do que o total calculado até 2010 e 54% a mais do que o de até 1990. O que significa que a emissão de dióxido de carbono (CO2), metano (CH4) e outros deve ser reduzida drasticamente para o melhor controle das mudanças climáticas e, consequentemente, da saúde global.

Para o presidente do Instituto Brasileiro de Transporte Sustentável (IBTS), Márcio D’Agosto, um dos grandes desafios está nos transportes. “Existe um desequilíbrio muito grande em modais. O deslocamento de cargas por caminhões e veículos de entrega é alto, chegando a 55% e 60%. Ou seja, do total de produtos transportados no Brasil, mais da metade é por via terrestre. Isso implica em poluentes sendo constantemente liberados na atmosfera. Sem falar que praticamente 90% da mobilidade de pessoas também é feita por transporte rodoviário”, afirmou.

Alternativas capazes de suprir essa necessidade de locomoção de pessoas e objetos com geração de menos impacto ambiental têm sido as apostas do mercado em geral. No setor de logística, organizações dos mais diversos segmentos já adotam veículos elétricos em substituição dos modelos tradicionais, além de estimular o uso de bicicletas, em um movimento chamado de ‘entrega verde’ que abrange tanto o e-commerce quanto o delivery.

Ainda que não sejam as próprias empresas a realizar o transporte de suas vendas, iniciativas como o Programa de Logística Verde Brasil (PLVB) vêm trabalhando a promoção dos conceitos de aprimoramento em eficiência energética e sustentabilidade entre embarcadores, prestadores de serviços logísticos e demais operadores.

A meta agora é expandir a experiência para o transporte de pessoas em grande escala. “A transição energética e tecnológica do sistema de propulsão mecânico para o elétrico deve ser priorizada nos modos de maior intensidade de uso. Ou seja, aqueles que rodam mais, como os ônibus, atingem uma quantidade significativa de energia e um maior volume de pessoas, podendo ampliar o potencial de distribuição com a inserção dessa tecnologia no mercado”, explicou D’Agosto. “Somente assim a eletrificação de veículos será de fato generalizada, tornando-se mais acessível para a expansão para carros particulares”, completou.

Na cidade de São Paulo, por exemplo, o Plano de Ação Climática desenvolvido pela prefeitura prevê a renovação da frota de transporte público em até 50% do total de 14 mil veículos com implantação de tecnologia zero emissões até 2030 e 100% até 2050, em conformidade com a Lei municipal nº 16.802/2018. O planejamento indica que um terço das emissões de gases de efeito estufa derivadas da combustão de diesel no município tem origem nos ônibus urbanos, sendo que, anualmente, consomem 400.000 m³ do combustível.

O especialista diz que a mudança é viável, apesar de complexa. “Não conseguiremos resolver os problemas das emergências climáticas e do meio ambiente fazendo as mesmas coisas de sempre. Tudo que puder ser tirado do transporte rodoviário e transferido para ferrovia ou meio aquático deve ser feito. A substituição de viagens urbanas de carro a combustível por elétrico, bicicleta ou a pé também. Existe tecnologia e possibilidade de investimento. Agora, precisamos efetivar essa transformação comportamental e institucional”, concluiu D’Agosto.

FONTE: CREA SP