No dia 19 de novembro celebra-se o Dia Mundial do Empreendedorismo Feminino, assim, propomos uma reflexão sobre os desafios de se empreender sendo mulher.
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Em 2019 o Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade divulgou seu relatório mais recente de Empreendedorismo no Brasil, a partir da Global Entrepreneurship Monitor (GEM), um programa de pesquisa com abrangência mundial que avalia o nível de atividades empreendedoras de cada país. Neste relatório, que antecede a pandemia de Covid-19, 88,4% das pessoas entrevistadas afirmam que uma das motivações para se iniciar um novo negócio é ‘para ganhar a vida porque os empregos são escassos’. No Brasil, o microempreendimento, principalmente, ganhou espaço como alternativa de trabalho, tanto pela alta nas taxas de desemprego, quanto também pela flexibilização das leis trabalhistas e do aumento das ‘terceirizações’.

Segundo o GEM  “o empreendedorismo é qualquer tentativa de criação de um novo empreendimento, seja uma atividade autônoma e individual, uma nova empresa ou a expansão de um empreendimento existente”. O relatório demonstra que a maioria dos empreendedores brasileiros já estabelecidos são homens maiores de 35 anos, com ensino fundamental incompleto, enquanto a principal atividade econômica são os serviços orientados para o consumidor. Ao mesmo tempo, o relatório indica que para cada empreendedor estabelecido com nível universitário, existem 6 outros empreendedores que não concluíram o ensino médio. Esse dado levanta questões tanto sobre quais são as alternativas existentes para aqueles que não têm escolaridade completa, quanto sobre qual a distância que existe entre quem tem estudo superior completo e o empreendedorismo duradouro.

Dentro da realidade da arquitetura e do urbanismo no Brasil, mas também no mundo, a maior parte dos profissionais trabalham autonomamente ou com algum vínculo informal de trabalho. Por um lado, a prática da arquitetura e do urbanismo enfrenta questões históricas que passam pelo reconhecimento e valorização da categoria, enquanto por outro também enfrentam dificuldades comuns às outras áreas, tanto financeiramente, em relação aos impostos e taxas, quanto burocraticamente, seguindo aquilo que aponta o relatório do Empreendedorismo no Brasil.

O relatório aponta que a maior parte dos empreendedores estabelecidos são homens, porém, quando verificamos os empreendedores iniciais, fica evidente que mulheres e homens decidem abrir negócios na mesma proporção, porém, os negócios encabeçados por homens tendem a durar mais. Susana Pires apresenta em palestra no TED Talks que a maior dificuldade que ela encontrou em sua pesquisa sobre empreendimentos femininos, não é uma diferença de rentabilidade ou de formação, mas sim a falta de apoio do mercado. Ao mesmo tempo, no Diagnóstico sobre Gênero, apresentado pelo Conselho de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo, é possível constatar que há diferenças entre homens e mulheres em cargos de liderança, em remuneração e inclusive sobre a forma de atuação.

Há portanto uma distorção sobre a forma como somos vistas no mercado de trabalho.  Gwendolyn Wright, Professora Emérita da Columbia University, classifica os perfis de mulheres arquitetas em quatro tipos: a arquiteta excepcional, das poucas que conseguiu se destacar na área, a desenhista autônoma que atua anonimamente dentro de um escritório, a profissional adjunta que seguiu caminhos paralelos à prática da arquitetura, como ser professora ou crítica, e ainda a profissional que se dedica a buscar alternativas para aqueles que são marginalizados na sociedade. Normalmente as mulheres são desviadas de seu trajeto e são poucas as que recebem reconhecimento profissional.

Os dados relatoriais escancaram aquilo que é vivido diariamente pelas mulheres, arquitetas e urbanistas ou não. O empreendedorismo feminino tem a missão de mudar como somos vistas no mercado de trabalho e também a responsabilidade de pautar as questões de gênero para conseguir equidade de oportunidades. Além disso, hoje em dia vivemos em uma sociedade onde a maior parte da população vulnerável são mulheres e crianças, das quais as mulheres representam a única e grande fonte de renda familiar. O empreendedorismo feminino precisa principalmente alcançar essa parcela da população que sofre não somente com o machismo estrutural, mas também com o desemprego e com a crise econômica e política, construindo caminhos conjuntos com essas mulheres.

Fonte: Archdaily