Em filmes distópicos, é comum que o céu esteja sempre envolto de uma névoa espessa, bloqueando os raios solares, trazendo uma atmosfera sombria às cenas. Seja em Blade Runner ou em episódios do Black Mirror, a falta do sol representa um futuro que não gostaríamos de viver. O sol fornece calor ao planeta Terra e é uma grande fonte de energia luminosa, fundamental para a sobrevivência de muitos seres vivos.
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Podemos gerar energia elétrica a partir do sol e ainda usamos apenas uma fração do que ele pode nos proporcionar. A luz solar também regula o nosso ciclo circadiano, que afeta nosso humor e disposição. Mas incêndios florestais recentes e a poluição industrial de algumas grandes cidades já têm tornado estes cenários bem mais comuns, privando parte dos habitantes de horas de sol. Em uma época em que estamos vivendo um enredo que poucos roteiristas de ficção científica poderiam prever, com a pandemia de Covid-19, tecnologias e diversas soluções surgem para tentar conter a disseminação destes inimigos invisíveis aos olhos. O sol, ou especificamente a radiação ultravioleta, seria capaz de matar vírus e bactérias? E isso funcionaria para o coronavírus?

A resposta não é tão direta e simples. É comprovado que o sol possui um alto poder germicida, podendo matar, inclusive, alguns vírus expostos por certo tempo. Ambientes que recebem a radiação solar por algumas horas apresentam menos umidade, e evitam a proliferação de fungos e bactérias. A responsável por isso é a radiação ultravioleta. Além da luz visível que podemos enxergar com os olhos, a ultravioleta (UV) possui uma frequência de luz maior. É daí que vem o nome, pois a cor violeta é a de maior frequência que o olho humano pode enxergar, e no espectro, ela fica entre a luz visível e os Raios X.

Os raios UVA e UVB são sempre mencionados e vistos nos rótulos de bloqueadores solares e em alertas de radiação no verão, já que podem ser nocivos à nossa pele. Os raios UVA têm o maior comprimento de onda (320 a 400 nm) e são os de maior incidência na superfície terrestre, já que não são absorvidos pela camada de ozônio. A exposição prolongada à luz UVA tem sido associada ao envelhecimento e danos à pele. A radiação UVB é a que causa as queimaduras do sol, mas também ajuda a pele a produzir um tipo de vitamina D (vitamina D3), com maior incidência durante o verão. Parte dela é absorvida pela atmosfera.

A luz UVC, por outro lado, não é encontrada naturalmente na Terra, uma vez que ela é completamente absorvida pela camada de ozônio. A radiação UVC é a porção de maior energia do espectro de radiação UV. Ela é particularmente eficaz para destruir material genético – seja em humanos ou partículas virais, com propriedades bactericidas. Por conta disso é largamente aplicada na esterilização de materiais cirúrgicos, em processos de tratamento de água e do ar. Esta desinfecção é realizada através de lâmpadas especiais com coloração azulada, que banham o ambiente de luz e matam a grande maioria dos microorganismos presentes.

Quem descobriu os efeitos deste tipo de radiação foi o médico e cientista Niels Ryberg Finsen, que recebeu o Prêmio Nobel de Medicina em 1904 ao utilizar raios ultravioleta para tratar infecções e doenças bacterianas.

Durante o ano de 2020, diversas luminárias de UVC foram lançadas no mercado para esterilizar ambientes, inclusive domésticos. A tecnologia, que até pouco tempo era exclusiva a espaços hospitalares, tem se espalhado para diversos usos. Há opções mais robustas e outras portáteis, que devem ser utilizadas com muito cuidado e seguindo as normas do fabricante. Isso porque porque a radiação pode ser extremamente agressiva aos humanos, animais e plantas, já que sua luz interfere nas células, podendo provocar mutações e desencadear doenças muito mais sérias. Por isso, ao utilizar as luminárias, o ambiente deve estar completamente vazio. O Metrô de Nova York tem utilizado a tecnologia para limpeza dos seus vagões, assim como algumas empresas de aviação e locais com alto trânsito de pessoas e pouca ventilação, potencialmente perigosos para a disseminação de doenças.

Em relação ao Coronavírus, a FDA (Food and Drug Administration, agência federal do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos) diz que a luz ultravioleta funciona para destruir rapidamente o revestimento externo de proteína do vírus, o que, então, elimina a eficácia do vírus. Este artigo científico detalha os experimentos e aponta que a destruição desta camada exterior acaba levando à inativação do vírus

No entanto, ainda que a tecnologia seja conhecida e já muito utilizada, ela somente retirará o vírus de circulação do ambiente e suas superfícies. A principal forma de transmissão do vírus continua sendo através do contato próximo de uma pessoa doente, através das gotículas respiratórias emitidas pela tosse, espirro ou fala. Mas a tecnologia pode ser extremamente eficaz para impedir a disseminação de microrganismos indesejáveis nos ambientes, que podem causar doenças e até mesmo danos aos materiais e estruturas. Isso nos leva a algumas questões: é inegável que o mundo mudou com a recente pandemia, e preocupações que eram características de ambientes hospitalares e laboratórios começaram a abranger outros tipos de espaço. Será que, à medida que desenvolvermos tecnologias mais seguras, os arquitetos serão capazes de especificar certos níveis de radiação para ajudar a criar espaços mais saudáveis ​​no futuro?

Fonte: Archdaily