Segundo Ceotto, a construção enfrenta muitos riscos: regulamentação governamental, com uma burocracia gigantesca na aprovação de projetos e concessão de Habite-se, falta de estabilidade jurídica, além dos riscos a que a própria indústria se submete, como processo construtivo artesanal e de baixa produtividade, falta de qualidade nos materiais e componentes, acidentes do trabalho, custos altos de manutenção e de assistência técnica e até a sazonalidade do mercado, sendo essa uma característica que se observa no mundo inteiro. Tudo isso afeta o processo construtivo. Para Ceotto, um conjunto de medidas podem diminuir os riscos de construção. “Não adianta nos chamarem de indústria da construção civil, nós temos de ser indústria”, destacou Ceotto.
Ele exemplifica os problemas que atravancam a produtividade no setor: “Quando você recebe componentes em uma obra e eles não casam uns com os outros, há que se dar um “jeitinho”, mas isso não pode acontecer pois significa perda importante de produtividade. Os componentes têm de ser pré-engenheirados.
As construtoras se especializaram em resolver problemas e fazerem adaptações, em vez de gerir a produção de forma eficiente. “Não se pode pensar em industrialização, se todo o ciclo do mercado produtivo não se tornar um ciclo de valor e os elos desse ciclo, tem que “conversar” porque a falta de diálogo que existe entre os elos de produção, explode na obra”. Um dos desafios é buscar processos que permitam uma gestão moderna, pois o processo antigo, convencional, dificulta muito a gestão, garante o engenheiro, que disse ainda que é preciso diminuir as atividades no canteiro da obra e aumentar as atividades em fábrica, com a produção de componentes, resolvendo previamente todas as possíveis interferências que possam surgir na montagem e no contato com os demais subsistemas. Também tem que ser previamente resolvidos, como esses componentes vão ser transportados, içados e até mesmo prevendo como a manutenção será feita: isso é pré-engenharia.
O engenheiro civil cita como exemplo que constantemente a indústria de cerâmica muda as dimensões das peças, não existe uma padronização e nem uma coordenação modular entre os sistemas, o que evitaria desperdícios. “Quando se fala em industrialização da construção é fundamental falar em construção a seco, e nesse sentido é preciso focar em quatro itens: estrutura, vedações internas, instalações prediais e fachadas. Se esses quatro tópicos estiverem bem resolvidos em uma obra, todo o resto fica mais fácil”, ensina Ceotto.
A tecnologia tem que ser enfocada de maneira diferente e criar valor para o cliente. Esta posição é defendida pelo engenheiro, que é integrante do comitê tecnologia e qualidade do Sinduscon. Entre os clientes mais importantes, ele destaca aquele que vai comprar ou alugar uma edificação além da própria construtora.
Como referencia dos itens básicos de desempenho temos a norma NBR 15575 que define os principais requisitos de desempenho desejados pelo cliente: segurança, habitabilidade, segurança ao uso, sustentabilidade, etc. “Os primeiros quatro itens desse quadro são valores para o cliente e para a construtora, mas o que precisa ser melhorado também é a questão da produtividade. Para o cliente, isso não significa nada, mas a produtividade é muito importante para a construtora: em uma obra, se houver baixo nível de interferência entre os sistemas, se tudo for pré-engenheirado e se a montagem é feita de forma segura, limpa, tranquila, sem “gambiarras”, a produtividade acontecerá de forma natural e isso é valor para quem administra o sistema construtivo”, enfatizou o engenheiro Ceotto. “Hoje, nós temos toda a tecnologia de que precisamos aqui no Brasil, só temos que mudar a percepção e transformar essa mudança em atitude. Pode-se citar como exemplo dessa tecnologia disponível os sistemas estruturais aqui disponíveis.
O país tem empresas que fabricam pelo menos cinco sistemas de escoramentos e formas em alumínios para lajes planas e paredes, além de empresas que produzem excelentes estruturas metálicas para edifícios de múltiplos andares”. Ele citou ainda outros processos avançados como o o LSF, as paredes internas em dry-wall, os quais proporcionam alta velocidade de obra, facilidade de alteração de layout, pouco risco de patologia, conforto acústico, leveza, além de estarem totalmente disponíveis no nosso mercado para qualquer porte de empresa. Explicou que há uma gama de produtos que são montados juntos com os sitemas LSF e o Drywall, como portas, por exemplo, que são instaladas em, no máximo, 15 minutos, enquanto uma convencional leva 2 horas ou mais para ser montada.
Fachadas pré-fabricadas de concreto funcionam bem e não apresentam problemas de patologia, embora necessitem mais intensamente de guindastes e gruas nas obras. Esse tipo de fachada tem sido usado mais em edifícios comerciais devido ao seu maior custo. O mercado brasileiro também já tem uma grande gama de perfis estrudados, chapas de gesso, além de chapas cimentícias para áreas externas, que estão sendo usados como fachadas.
È o LSF sendo usado como sistema de fachada e abrindo enorme possibilidade para a industrialização de edifícios residenciais com alta qualidade e segurança de construção. Estas fachadas pré-fabricadas para Light Steel Frame, são leves e não necessitam de equipamentos pesados para serem montadas na edificação. Além da leveza, essas fachadas usam somente gabaritos na sua construção, dispensando formas e sobem totalmente acabadas.
Os revestimentos em pintura, cerâmica ou pedra podem ser aplicados antes da sua montagem e fixação, por isso, segundo o engenheiro, o custo é menor que as de concreto além de não limitarem a arquitetura. Esse tipo de fachada pré-fabricada ainda tem a vantagem de possuir desempenhos térmico e acústico elevado.
Ceatto enfatiza:
• Temos toda a tecnologia que precisamos no Brasil para a industrialização da construção.
• Essa tecnologia esta disponível para qualquer empresa, independentemente do seu tamanho.
• A apropriação dessas tecnologias necessita apenas de investimento em capacitação gerencial.
• Investimento no conhecimento dos sistemas, no estudo de interferências e no processo de gestão.
• Precisamos somente mudar a nossa percepção e a nossa cultura de improdutividade. • Fazer com que a tecnologia seja uma ferramenta viabilizadora da estratégia das empresas.
•Podemos e precisamos de um grande salto de produtividade rapidamente.
•A industrialização da construção é possível imediatamente e o maior investimento é na capacitação de nossos diretores, engenheiros e trabalhadores.